Estudo inédito da Fiocruz traz descobertas sobre a doença de Chagas.
Um estudo inédito realizado por pesquisadores do Instituto Carlos Chagas (ICC/Fiocruz Paraná) é o destaque de capa da edição de junho da revista científica Molecular Microbiology. A pesquisa investigou o Trypanosoma cruzi, parasito causador da doença de Chagas e que apresenta em seu ciclo de vida quatro formas evolutivas entre o inseto vetor – conhecido como barbeiro – e o hospedeiro mamífero. O estudo teve como foco a investigação da forma chamada de epimastigota, presente no tubo digestivo do barbeiro. Os resultados evidenciaram que, nesta fase, o parasita possui característica biológicas antes nunca evidenciadas, colocando em xeque um paradigma centenário na doença de Chagas, de que formas epimastigotas não são infectivas ao hospedeiro mamífero.
“A pesquisa mostrou, que diferentemente do que se acreditava há mais de um século, epimastigotas recém diferenciados destacam-se por suas características relacionadas à infectividade ao hospedeiro mamífero, tanto em cultivos celulares in vitro como em modelo animal in vivo, à resistência ao sistema imune inato do hospedeiro mamífero e à expressão de diferentes fatores de virulência em comparação com as demais formas do ciclo de vida do parasita”, explica Rafael Kessler, pesquisador do Laboratório de Genômica Funcional da Fiocruz Paraná. “O estabelecimento e otimização de protocolos de epimastigogenese, tanto in vitro como in vivo, possibilita o estudo de peculiaridades do ciclo de vida de T. cruzi nunca antes vislumbradas, e foi passo crucial para a descoberta do estágio infectivo epimastigota recém diferenciado (rdEpi)”, explica Kessler, primeiro autor do artigo publicado na Molecular Microbiology. A descoberta, segundo o pesquisador, pode contribuir para entender por que a infecção por T. cruzi pela via oral – por meio da ingestão de alimentos contendo insetos barbeiros (triturados durante o preparo de sucos) –, apresenta, geralmente, uma fase aguda mais intensa. A pesquisa também mostrou, de forma inédita, as outras formas de evolução são capazes de diferenciar as características da forma epimastigota.
O trabalho, desenvolvido em um período de seis anos, resultou no estabelecimento de uma nova linha de pesquisa, com ênfase na investigação da interação parasita-hospedeiro. Os próximos passos incluem a investigação da infectividade do rdEpi por via oral e os alvos celulares de preferência do parasito no hospedeiro mamífero.